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Poemas...

Aqui fala-se de tudo e mais alguma coisa

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Re: Poemas...

Mensagempor Lima_Paço » terça Oct 05, 2010 21:00

Contrariedades

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve a conta na botica!
Mal ganha para sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopéia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redação, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A imprensa
Vale um desdém solene.

Com raras exceções merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,
Soluça um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingênuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convêm, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.

A adulação repugna aos sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exatos,
Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe umedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!

Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'
"Aprendi..., que a desilusão é uma das piores dores!... Pois ninguém se ilude com aqueles que conhece, mas sim com os que pensa que conhece!..." (Helber Chin Ku Chon Choo)
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Re: Poemas...

Mensagempor bicho felpudo » terça nov 02, 2010 22:05

Vai uma cruz à frente


Vai uma cruz à frente
que dita a sina da dor
em que tu e eu existimos na cidade dos nevoeiros, e dos cheiros perfumados,
dos nossos corpos marcados, pela pequena distância e pelo bem da criança,
que havia dentro de cada um de nós,...........nunca deixamos morrer...........

Vai uma cruz de rastos
que dita a sina da dor
das nossas mentes confusas no campo dos vendavais , esmagada a alfazema
e dos cheiros perfumados,perturbados azedados, e já tão distanciados........
Pela incompreensão

Copos cheios, noite alta
porque dormes acordado
roubaste meu sono azul
carmim , verde e amarelo

Quem és tu que leva a cruz
por essa estrada sem luz?




Quiaios 16/8/2010 avelina vieira
"Os covardes morrem muito antes de sua verdadeira morte. "
( Júlio César )

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Re: Poemas...

Mensagempor Lima_Paço » quinta nov 04, 2010 09:27

Hoje é um dia especial para mim: Se a minha avó fosse viva faria hoje 100 anos, infelizmente partiu à cerca de 9 anos, foi a única avó que conheci e tenho saudades dela, mas também hoje faz 6 meses que a minha vida começou a mudar, por uma lado para pior, mas por outro para melhor, por isso aqui deixo 2 poemas a celebrar este dia.

O dos 6 meses é uma conversa que encontrei num blog, entre uma mãe e o seu bebé de 6 meses, mas também pode ser muito mais, por isso o coloco aqui:

Seis meses de namoro!

Não foi amor à primeira vista! Não foi! Estranhei-te... antes de conhecer-te verdadeiramente.
Assustaste-me com esse teu jeito de quem chega de rompante e arromba toda a minha vida.
Mudaste-me os hábitos...os dias e noites.

E mesmo assim foi tão difícil resistir-te!
Confesso! Conseguiste conquistar-me com um olhar doce, aquele toque suave, o cheiro da tua pele, um sorriso genuíno.

Mimos que usas sem limites para me desarmar... para desculpar o teu egoísmo, os caprichos e ciúmes... as exigências a qualquer hora.
Apaixonei-me... aprendi a amar-te, assim, incondicionalmente... intensamente.
Aprendi a gostar de tudo em ti e a receber as pequenas "grandes" coisas que tens para me dar.

E a cada dia dou por mim a olhar-te... contemplando tudo o que fazes... perdoando-te o temperamento impulsivo, os tiques e manias.

Sim, estou apaixonada por ti... estou apaixonada pela nossa relação especial.
Já lá vão seis meses de namoro.
Está a tornar-se sério. Arrisco dizer que quero passar o resto da minha vida ao teu lado!

Ler mais: http://cronicasdemimparamim.blogspot.co ... z14IjnQFk5

Para a minha avó foi mais difícil encontrar algo que me dissesse algo e como não sou poeta, mais uma vez tive de copiar alguém e adaptar :oops: :

À minha avó...

Avó por seres uma pessoa tão especial na minha vida...
Por todos os momentos que passamos juntos,
Por todas as histórias que me contaste...
Por seres um exemplo de força de vontade para todos,
Por nunca baixares os braços,
Tu que passaste por tanto e continuas sempre ao pé de nós...
Porque enfrentaste tudo com um sorriso nos lábios... (às vezes)
Por essa lágrima que muitas vezes aparecia no canto do teu olho.

Estas palavras são para ti!!!

Tu que me ensinaste tanto...
Ensinaste-me a não desistir quando a vida me parece negra e sem explicação,
Ensinaste-me a nunca desistir dos meus sonhos,
A lutar por aquilo que mais quero...
...
Enfim, tu pintaste o meu céu e a minha vida de cores alegres e suaves...
Foste como um pássaro que quer esteja frio ou muito calor canta sempre uma melodia,
Eras um raio de sol num dia cinzento e de chuva...
Foste a minha AVÓ, a minha amiga, a minha confidente!!!

...

Fazes-me falta AVÓ!!!
"Aprendi..., que a desilusão é uma das piores dores!... Pois ninguém se ilude com aqueles que conhece, mas sim com os que pensa que conhece!..." (Helber Chin Ku Chon Choo)
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Re: Poemas...

Mensagempor bicho felpudo » quinta nov 04, 2010 10:34

Imagem Também tenho saudades da minha...Imagem
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Re: Poemas...

Mensagempor bicho felpudo » quinta nov 04, 2010 11:01

Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
Charles Chaplin
"Os covardes morrem muito antes de sua verdadeira morte. "
( Júlio César )

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Re: Poemas...

Mensagempor bicho felpudo » quinta nov 04, 2010 22:53

Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles
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Re: Poemas...

Mensagempor Lima_Paço » sexta nov 05, 2010 08:34

Poema sobre a canção da esperança

Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos
De me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios -
Os melhores lírios -
E as melhores rosas
Sem receber nada,
a não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.


Álvaro de Campos
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Re: Poemas...

Mensagempor Lima_Paço » quinta nov 18, 2010 11:03

CEGONHAS

Olá cegonha gosto de ti!
Há quanto tempo, te não via por aí!
Nem teus ninhos nos telhados,
Nem as asas no céu!
Olá cegonha! Que aconteceu?
Ainda me lembro de ouvir-te dizer,
Que tu de longe os bebés vinhas trazewr!
Mas os homens vão crescendo,
E as cegonhas a morrer!
Ainda me lembro... não pode ser!
Adeus cegonha, tu vais voar!
E a gente sonha... é bom sonhar!
No teu destino, por nós traçado!
Leva o menino, que é pequenino, toma cuidado!
Adeus cegonha, adeus lembranças...
A gente sonha, como crianças!
Faz outro ninho, no som dos céus!
Vai de mansinho, mas pelo caminho, diz-nos adeus!
Adeus cegonha, tu vais voar!
E a gente sonha... é bom sonhar!
No teu destino, por nós traçado...
Leva o menino que é pequenino, toma cuidado!
Leva o menino... mas tem cuidado!
(Carlos Paião)
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Re: Poemas...

Mensagempor Lima_Paço » terça dez 28, 2010 10:24

Fala

Fala a sério e fala no gozo
fa-la p'la calada e fala claro
fala deveras saboroso
fala barato e fala caro

Fala ao ouvido fala ao coração
falinhas mansas ou palavrão

Fala a miúda mas fala bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe

Fala franciú fala béu-béu

Fala fininho e fala grosso
desentulha a garganta levanta o pescoço

Fala como se falar fosse andar
fala com elegância muita e devagar.

Alexandre O'Neill
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Re: Poemas...

Mensagempor bicho felpudo » terça dez 28, 2010 21:47

O ronron do gatinho

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso faz ronron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ronron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ronron em seu peito
não é doença - é carinho.

Ferreira Gullar
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Re: Poemas...

Mensagempor Lima_Paço » quinta dez 30, 2010 17:41

Os Mochos

Sob os feixos onde habitam,
Os mochos formam em filas;
Fugindo as rubras pupilas,
Mudos e quietos, meditam.

E assim permanecerão
Até o Sol se ir deitar
No leito enorme do mar,
Sob um sombrio edredão.

Do seu exemplo, tirai
Proveitoso ensinamento:
— Fugí do mundo, evitai

O bulício e o movimento...
Quem atrás de sombras vai,
Só logra arrependimento!

Charles Baudelaire
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Re: Poemas...

Mensagempor bicho felpudo » terça mar 08, 2011 23:26

Adeus - Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.
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